Viemos da cultura do GAP, que traz o olhar para o que está faltando, o que pode ser melhorado, como se a crítica fosse a melhor forma de garantir evolução. Estratégias de feedback que sempre têm pontos a melhorar, disfarçados entre elogios para não derrubar a motivação. Errar é humano, mas será mesmo que acreditamos nisso? Internalizamos a humanidade que existe por trás do erro? Integramos que faz parte do aprendizado, apesar do desconforto?
Esse artigo fala sobre a relação humana com a inovação e como podemos trabalhar o tema do ponto de vista do indivíduo que participará de processos de inovação e transformação.
A relação que temos com a inovação
A aversão ao erro é um dos principais impeditivos da inovação. E começa desde cedo. Veja como são as crianças. Quando começam a falar, nos enlouquecem com as perguntas. E, ao entrar na escola, são treinadas para deixar de perguntar e começar a responder perguntas que, a propósito, não foram elas que fizeram. O que o sistema de ensino faz com a inovação? Quão premiados fomos ao dar a resposta certa?
Você sabia que 90% das primeiras start-ups fracassam, 90% das segundas start-ups têm sucesso, mas apenas 80% dos empreendedores tentam pela segunda vez? Já disse Sir Ken Robinson, consultor em educação, que se você não estiver preparado para estar errado, jamais sairá com qualquer coisa original. E, em tempos de crise, precisamos de soluções inventivas, que desafiam tudo o que já foi pensado. Jobs quem disse que tudo que existe no mundo foi criado por pessoas não mais inteligentes que você. E a neurociência corrobora esta afirmação, mostrando que a plasticidade cerebral garante que nós sejamos sempre capazes de aprender, criando novos caminhos neurais, independente de quão enraizado possa estar um comportamento. Ser inteligente ou criativo são apenas habilidades que podem ser treinadas e fortalecidas, até que se tornem naturais.
Repense sobre sua relação com a imaginação. Quando criança, foi estimulada? E ao entrar no mercado de trabalho, quantas vezes você já foi repreendido com um “volte para a realidade”? Quem não imagina apenas replica o que já existe. E velhas ideias não solucionarão a complexidade que surge dos novos problemas que ainda nem vivemos. A pandemia está aí para nos mostrar que o que já funcionou não necessariamente funcionará neste novo ambiente volátil, incerto e ambíguo.
O ser humano não é um recurso, ou algo que a empresa detém. Mas é uma vantagem competitiva sustentável, pois, sem pessoas flexíveis, resilientes, com vontade e interesse em aprender, não acontecem transformações. Ou, quando acontecem, vêm com muito mais esforço e investimento. São inúmeros os desenvolvimentos não utilizados pois não foram comprados pelos usuários.
Para que haja inovação, é preciso estar confortável com o erro, sem sentir o medo, muitas vezes inconsciente, de não fazer parte, que muitas vezes vêm do ambiente de crítica e punição. Ser aceito é uma das necessidades mais básicas do ser humano, que garantiu a perpetuidade da espécie, em meio a um ambiente extremamente hostil. Foi pela formação de grupos que seres humanos adquiriram uma vantagem competitiva frente aos animais tão mais fortes na pré-história. Isso faz com que soframos e, muitas vezes, evitemos, tudo que nos coloca em posição de destaque, separação ou isolamento. E faz com que, inconscientemente, optemos pelo grupo, sem causar desconforto ou disrupção, tão necessárias atualmente.
E qual é a solução? Hoje, podemos desconstruir esta cultura que tanto foca nos pontos a desenvolver baseados nas famosas críticas construtivas, direcionando a energia para o que cada um faz de bom. Pense você, com um dinheiro limitado, tendo que investir em alguém. Há ali, Ana, que ama piano, mas nunca tocou. Há também Maria, que tem um talento nato a já pratica, sempre que possível. Se você investir na Ana, ela, com muita prática e investimento, pode ser uma boa pianista. Mas investindo na Maria, você pode ter uma gênia. Então porque gastamos tanto tempo no que as pessoas precisam melhorar, ao invés de direcionar a energia para o que elas fazem de bom? Isso cria uma cultura de valorização, liberdade e inovação.
Afinal, domínio é a união de processo e progresso. Antes chamadas de soft skills, têm se mostrado cada vez mais necessárias para a criação em períodos desafiadores. É preciso fortalecer sentimentos que sustentam a autoconfiança, que são:
- autoestima, ou seja, saber que você merece o lugar que ocupa e que dará conta do desafio, buscando cada vez mais;
- otimismo e a capacidade de confiar no melhor, esperando resultados favoráveis;
- autoeficácia, que traz profundo envolvimento e envolve dedicação para fazer o melhor possível;
- autocompaixão, frequentemente mal interpretada, como se fosse uma característica que deixa as pessoas acomodadas. No entanto, ela fortalece a ação e propulsiona o movimento. É a autocompaixão que dissolve o perfeccionismo irreal que paralisa e impede que os planos saiam do papel. Que nos coloca na condição humana, passível de erros, permitindo que deixemos fracassos para trás com agilidade, rumo a uma melhor versão, sem tortura ou insensatez.
Considerações Finais
Try hard, fail fast, ou, em tradução livre, experimente tanto quanto possível para, assim, identificar com agilidade os possíveis erros, antes que sejam graves demais para serem corrigidos. Para isso, é fundamental estabelecer uma cultura que favorece a experimentação, a prototipagem, a imaginação e as trocas, sem medo da retaliação.
Permita-se criar, dê liberdade à sua equipe, deixe que sonhem e garanta que os sistemas de automação, tecnologia e inteligência artificial realizem o que foi imaginado. É possível, não tenha medo de se colocar vulnerável – questionar, errar, ajustar, para então realizar. E conte com a GMC para a transformação digital que a sua cadeia de suprimentos precisa neste momento.
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