Autoria: Gisela Mangabeira de Sousa & Estela T. Takahachi
Torre de Controle em Supply Chain
A criação do conceito de torre de controle aplicado à Supply Chain surgiu da necessidade de visibilidade de informações para melhor tomada de decisões.
A falta de informações sobre os diversos processos e etapas que fazem parte de uma Cadeia de Suprimentos dificulta a identificação dos problemas e consequentemente sua solução, sendo ainda mais difícil a detecção de um potencial problema e solução desde antes que o problema se concretize gerando custos adicionais e insatisfação dos clientes.
Organizar todas as informações de Supply Chain, ou mesmo de uma de suas frentes pode ser uma tarefa complexa, devido a alta distribuição horizontal e vertical das informações na cadeia.
Conceitos
"Torres de controle são estruturas organizacionais 'multidepartamentais' com um sistema integrado de informações (hub de informações) que geram visibilidade das atividades e processos de uma Cadeia de Suprimentos. As informações coletadas são distribuídas a especialistas em interpretar as informações que detectam e agem sobre riscos e oportunidades rapidamente" - Global Supply Chain Control Towers: Achieving end-to-end Supply Chain Visibility, Capgemini, 2017
Segundo Trzuskawska-Grzesińska em seu artigo "Torres de Controle em gestão da Cadeia de Suprimentos - passado e futuro", o objetivo de torre de controle é construir um sistema de gestão de eventos em supply chain (SCEM), ou seja, monitorar a sequência de atividades planejadas ao longo da cadeia e reportar qualquer divergência quanto ao planejado. Idealmente, o SCEM permitirá uma resposta proativa e/ou automática para os desvios do planejado.
Vale a pena destacar que o conceito de torre de controle passa a ser utilizado em um contexto de migração de uma estrutura descentralizada de tomada de decisão para uma centralizada. Ou seja, você concentra os diferentes especialistas de um dado tema em uma estrutura onde eles têm acesso às informações e podem discutir soluções para o problema gerando ganhos de escala em conhecimento, reduzindo o caminho necessário para tomada de decisões que dependam das hierarquias mais altas na empresa e/ou facilitando o desenho de abordagens mais robustas junto a outros departamentos da empresa, parceiros e fornecedores.
A figura 1 ilustra diferentes contextos de controle e gestão de operações e sua relação com o conceito de centrais e torres de controle.
Figura 1 - Diferença entre gestão de processos e torre de controle
Os níveis de ação e decisão a serem tomadas em uma torre de controle podem ser:
Estratégicas: controle sobre o desenho da rede de suprimentos como um todo
Táticas: permite planejamento de compras, operações e distribuição alinhados com a demanda
Operacionais: direciona várias funcionalidades em tempo real incluindo gestão de transporte, inventário e exceções
Em grandes empresas, as torres de controle podem ser subdivididas geograficamente ou por tema. Nesse contexto, podemos ter uma torre de controle para América Latina, outra para Europa, outra para Ásia, ou mesmo torres de controle por país. Em cada uma dessas torres as decisões são tomadas localmente sem grandes interferências das outras torres. Essas torres por país podem ser organizadas para tomadas de decisão operacionais, torres regionais para tomar decisões táticas e torres centrais para decisões estratégicas.
Por tema, existem centrais de controle específicas para transportes, outras específicas para gestão de inventário.
Em um contexto ampliado, a torre de controle de uma empresa está conectada a de outra empresa de uma mesma cadeia através de uma Torre de Controle Avançada orquestrando ações colaborativas. Ou seja, em um modelo tradicional, cada empresa do sistema pode ter sua estrutura de torre de controle e através disso planejar e executar usando as informações centralizadas na torre. Em um desenho mais avançado e colaborativo, informações podem ser consolidadas digitalmente e direcionar ações de planejamento e execução coordenadas entre as diferentes empresas da cadeia.
A figura 2 compara o modelo tradicional de planejamento independente de cada empresa com um modelo de planejamento coordenado e colaborativo.
A estrutura das torres de controle vai depender muito do nível de tecnologia aplicada, da estrutura organizacional e dos processos de tomada de decisão definidos.
Figura 2 - Comparação entre espectro das torres de controle de supply chain tradicionais e colaborativos (adaptado de One Network Enterprise, 2018)
Evolução das torres de controle
Segundo o webinar "Por dentro de uma torre de controle 4.0" (Inside a control tower 4.0 - Achieving disruptive results from autonomous control towers) realizado em 2018 pela One Network Enterprises os objetivos foram se ajustando no tempo segundo o indicado na figura 4, podendo ser classificadas em 1.0, 2.0, 3.0 e 4.0. Essas 4 diferentes classificações de torre de controle estão descritas no quadro 03 (próxima página).
O infográfico 01 ilustra de forma esquemática o movimento dos diferentes tipos de torre de controle e sua posição em estratégias centradas na empresa e estratégia centradas no cliente.
Não necessariamente as empresas precisam passar por todos esses estágios em suas torres de controle, sendo possível desenhá-la alinhada com os objetivos de cada empresa. A maior dificuldade das empresas em chegar no nível 3.0 ou 4.0 está na decisão e engajamento de players para o compartilhamento de informações entre empresas, sendo direcionada normalmente por empresas com um maior grau de maturidade em termos de supply chain ou com visão disruptiva de negócios.
Infográfico 01 - Características dos diferentes classes de Torre de Controle
Perspectivas
A intenção de desenvolvimento de torres de controle já era citados em pesquisas em anos anteriores mas foi reforçada com a pandemia onde soluções de negócios que envolvem maior pulverização das entregas, uso de marketplaces e parceiros logísticos e a intenção de aumentar o conhecimento sobre os consumidores e suas preferências, entre outros.
De acordo com a pesquisa realizada pela GMC no final de 2019 sobre inovações em logística e supply chain, o desenvolvimento de torres de controles faz parte dos objetivos de curto prazo da maior parte das grandes empresas atuantes no Brasil. Até o final de 2021 é esperado que cerca de 75% das grandes indústrias, 60% do varejo e mais de 80% de grandes operadores logísticos tenham algum tipo de painel ou torre de controle implementado.
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